Porque luta por pessoas com deficiência? Tem alguém na família?

 

Esta é seguramente a mais frequente de todas as questões que me tem colocado nos últimos anos. São centenas, não estou a falar-se meia dúzia de pessoas a quem, de alguma forma, intriga esta minha opção de vida.

Para dizer a verdade, a mim intriga-me o facto de ser motivo de intriga para tanta gente, mas esta será uma das muitas questões que não vou conseguir clarificar, e acreditem que já muitas vezes me questionei a respeito. 

A resposta que dou é honesta. Sou só e apenas, uma simples professora que há muitos anos começou a trabalhar com estas pessoas. Cortava-me o coração vê-las sempre tão sozinhas (a elas e às famílias), sem ninguém que as defendesse e quis ser essa pessoa.
hhhh
E quis ser essa pessoa porque, há muitos anos também eu fiz parte dessa minoria, cheia de rótulos e baixas expectativas, só porque vinha de outro país. De outra cultura. Vir de Angola naquela altura trouxe-me alguns amargos de boca… Enfim, digamos que sei bem o que é ser  discriminado, sei o que é pertencer a uma minoria e sei o que é ter que trabalhar o dobro para provar que valemos tanto como os outros/as. Na altura, também gostava de ter tido uma pessoa que me defendesse…
 hhhh
Por isso quis ser essa pessoa. A que defende, a que leva a bandeira (e os tiros às vezes). Não o digo por arrogância ou pretensão. Digo-o com orgulho. Orgulho de todas as donas Leopoldinas na minha vida, de todas as Vânias, Carlos, Martins e Fábios. Todos me ensinaram mais do que lhes ensinei. Deram muito mais que lhes dei e sobretudo transformaram-me numa pessoa completa. Até os conhecer era apenas meia pessoa. Como tantas meias pessoas que conheço.
 
hhhh
Portanto…o motivo pelo qual faço isto: simplesmente porque me apetece e porque gosto de o fazer. Para mim, para mais ninguém! 
Faço-o motivada pelo egoísmo de me fazer sentir bem.
Faço-o com a certeza de que, cada vitória para eles duplica o meu estado de alma. Sem falsas modéstias ou expectativas.
 
Faço-o por caturrice, por loucura, por vontade, não sei! E o melhor é que gosto. 
 
hhhh
Defendi, defendo e defendei. Lutei, luto e lutarei pelas donas Leopoldinas, Vânias, Carlos, Martins e Fábios, simplesmente porque me apetece. E não, não precisam de ser da minha família para lhes ter este amor todo. Basta SER!
 f
Estão a ver: afinal a razão é simples! 😉
 
hhhh
Parece-me um bom motivo não acham? 
 
 
hhhh
Kiss. kiss. Bang, Bang!
hhhh
celmira

9 opiniões sobre “Porque luta por pessoas com deficiência? Tem alguém na família?

  1. Gente como ela não há é única! Agora gente que a sua maneira faça a sua luta isso sim encontra-se. Encontrei-me nas suas palavras Celmira, tirando a parte da experiência da discriminação, sempre fui feliz e sempre achei que era para todos por isso luto pela inclusão de todos. Se trabalhasse com outra minoria excluída faria o mesmo não vejo outra forma de ser! GRANDE ABRAÇO. Pascale

    Gostar

  2. Como falou nuns dos piores males que apoquenta as pessoas com deficiência, (rótulos que se põem nas pessoas) eu vou partilhar uma experiência, que se passou comigo, contada na primeira pessoa:

    Estava em Outubro de 1971, tinha eu feito 14 anos no mês anterior e ia começar a trabalhar numa empresa gráfica (Litografia Nacional).
    No primeiro dia em que fui admitido, fui também despedido e de novo readmitido. Tudo porque me envolvi à “pancada” com outro trabalhador, o matulão lá do sítio (que tinha a alcunha de Zé Gorila), que me chamou de “manco”.
    Com jeitinho disse-lhe que o meu nome era Nelson e não admitia ser tratado de outra forma.Como ele disse não pretender satisfazer o meu pedido, desafiando-me para eu dizer o que faria se continuasse a pôr-me aquele rótulo, eu respondi-lhe que lhe dava “cabo da tromba”. Então ele repetiu aquele insulto, e eu atirei-me a ele, como um predador. Claro que fiquei mais amachucado que ele, mas ganhei muito mais do que perdi. Ganhei o respeito de todos os que presenciaram aquela cena, e ganhei uma das batalhas mais importantes na vida, que é o direito à dignidade.
    Depois fui chamado à presença do patrão, que me comunicou não tolerar actos de indisciplina, para mais vindo de uma pessoa que ainda não tinha sequer assinado contrato.
    Depois de explicar as razões que me fizeram tomar aquela atitude, pedi-lhe que me desse uma segunda oportunidade. Ele mostrando alguma sensibilidade e flexibilidade, disse que eu poderia ficar naquela empresa, se lhe prometesse que não voltaria a fazer o mesmo. Respondi peremptoriamente que NÃO (até parecia o “Operário em construção” do Vinicius de Morais) podia prometer isso, porque iria lutar todos os dias, para que fosse tratado com o respeito que todo o ser humano merece. O patrão decidiu dar-me mais uma oportunidade, que eu soube aproveitar de tal maneira, que acabei por trabalhar nessa empresa 34 anos e sem um único processo disciplinar!
    Esta foi uma das mais importantes vitórias que eu conquistei ao longo da vida. Desta vez ganhei, mas o ideal era que não fosse preciso lutar. Bastava que para isso, toda a gente conhecesse e compreendesse o artigo 1º, da Carta Internacional dos Direitos Humanos que diz o seguinte:

    “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.

    Liked by 1 person

Deixe um comentário